Gabriela Martins, Marília Gabriel e Scheila Becker
É
comum ouvirmos dizer que as crianças de hoje são muito diferentes do que as do
passado. No entanto, as crianças em si (seu código genético, suas
potencialidades e formas de interagir com o mundo) não mudaram. O que mudou
drasticamente foram nossas ideias sobre a infância e sobre as formas de
educação da criança. Na medida em que a ciência divulgou conhecimentos sobre
competências precoces das crianças, os adultos passaram não só a apresentar o
mundo cada vez mais cedo para elas, como também a respeitar suas necessidades.
Isso, por exemplo, culminou no questionamento de práticas punitivas de
educação, tema tão discutido hoje em dia.
O
que se percebe, no entanto, é que, apesar de todo esse questionamento, novas
práticas não substituíram definitivamente as anteriores, de modo que muitos
adultos sentem-se bastante inseguros a respeito de seu papel. Apesar de a
ciência mostrar que não existem formas únicas e definitivas de criar uma
criança, há certo consenso de que ela precisa de um adulto que, com afeto e respeito,
saiba lhe dizer o que é socialmente aceito dentro do contexto em que ela vive.
Ressalta-se que a criança não aprende somente se o adulto, de forma
intencional, resolve ensiná-la. Não há um momento específico ou um local
específico (ex.: escola) para isso ocorrer. É no cotidiano e nas interações
espontâneas que as aprendizagens mais significativas ocorrem, incluindo
momentos de brincadeira e rotinas de cuidado.
E
o que a criança aprende nessas situações? O quanto ela é competente e que ela
pode, em um primeiro momento, não ter êxito em alguma atividade, mas que isso
não significa que ela nunca conseguirá. Aprende a se conectar com os
sentimentos dos outros e a, a partir disso, cooperar. Se os adultos permitem
que ela faça suas próprias construções e valorizam suas conquistas, vai se
sentir mais confiante para ser criativa e inventiva. Podemos pensar que o papel
do adulto é ser para a criança uma fonte de cuidado, apoio e de espelho. Ou
seja, que as crianças consigam ver a si mesmas no olhar do adulto, um olhar que
mostra um ser humano capaz e com muitas possibilidades. Esse texto é uma
homenagem a todas as crianças e, em especial, à Érica, que veio ao mundo,
recentemente cheia de possibilidades.
Psicólogas, doutoras
em Psicologia pela Ufrgs
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