A
inteligência em três tempos
O bebê explora, põe tudo na boca, descobre novos
objetos. A menina brinca de casinha, o menino representa uma corrida com seus
carrinhos de brinquedo. Ou ao contrário. Um pouco mais tarde, ambos voltam a atenção às regras
de conduta e moralidade. Já o adolescente, mais reflexivo, é capaz de construir
argumentos para rebater os dos pais e planejar o próprio futuro. São formas
diferentes de interagir com o mundo, que vão se tornando mais complexas à
medida que o indivíduo cresce. Na obra de Jean Piaget (1896-1980), esses
mecanismos recebem o nome de esquemas de ação e são considerados o motor do
conhecimento.
Há inúmeras possibilidades de
esquemas de ação.
Mamar, sugar, puxar e prender são esquemas comuns no desenvolvimento da
inteligência sensório-motora (em média, até 2 anos de idade). Imitar,
representar e classificar é típico da inteligência pré-operatória
(aproximadamente de 3 a 7 anos), assim como ordenar, relacionar e abstrair
caracteriza o período operatório-concreto (de 8 a 11 anos). Já argumentar,
deduzir e inferir aparece na estruturação da inteligência operatória formal (a
partir dos 12 anos). É com base nesses esquemas que as pessoas constroem as
estruturas mentais que possibilitam o aprendizado. "Inicialmente,
isso se dá com a experiência empírica, concreta. Em seguida, conforme a criança
vai se desenvolvendo, ela caminha em direção ao pensamento formal,
abstrato", explica Angela da Silva Giusta, professora de Ensino de
Ciências e Matemática da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(PUC-MG).
As pesquisas científicas de
Piaget sobre as características do pensamento infantil receberam a contribuição
de importantes acontecimentos em sua trajetória pessoal. Entre 1925 e 1931,
nasceram seus três filhos, ponto de partida para uma etapa de observação de
seus comportamentos. Após uma criteriosa análise dos dois primeiros anos de
vida dos bebês, Piaget chegou à conclusão de que a inteligência se desenvolve
desde o nascimento e não com o surgimento da fala, como era comum pensar até
o início do século 20.
No livro A
Epistemologia Genética, o pensador suíço divide o processo "dinâmico e
infinito" do desenvolvimento da capacidade de conhecer em quatro períodos.
No sensório-motor, que vai desde o nascimento até os 02 anos, a criança conhece
o mundo por meio dos esquemas de ações que trabalham sensações e movimentos. Ao
nascer, o bebê percebe o mundo como uma extensão do seu corpo. Ao desenvolver o
esquema de sucção, por exemplo, o bebê começa a diferenciar o que é seio da
mãe, o bico da mamadeira, a chupeta ou mesmo o dedo. Com o tempo, consegue
identificar objetos que são sugáveis ou não. Um dos principais resultados desse
período é a criança tomar consciência de si mesma e dos objetos que a cercam.
"Esse processo é chamado por Piaget de construção do objeto permanente, ou
descentração", explica Cilene Charkur, professora aposentada da Universidade
Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp), campus de
Araraquara.
Nessa fase, mesmo antes de
falar e pensar, a criança consegue realizar condutas consideradas lógicas,
ligadas à ação sobre objetos concretos. Um bebê de 8 meses, por exemplo, pode
afastar um brinquedo para pegar outro de seu interesse. "Nesse caso, ele
coordena dois esquemas: um esquema meio (afastar) e outro esquema fim (pegar).
Trata-se de uma integração recíproca entre duas ações e não só uma associação
mecânica", afirma Adrian Oscar Dongo Montoya, professor da Unesp, campus
de Marília.
Fonte: Revista Nova Escola
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